A imagem do empreendedorismo muitas vezes parece distintamente “norte-americano”. Isso engloba, afinal, o sonho americano de mobilidade social ascendente e ilimitada. E há a crença de que, desde que você tenha uma boa ideia e uma boa ética de trabalho, poderá começar sua própria empresa e ganhar muito dinheiro.

Então há toda a questão sobre enxergar empreendedores como heróis folclóricos modernos. Nós tendemos a celebrar os bilionários que abandonaram a escola (como Mark Zuckerberg), que se desviaram da norma, e os renegados (por exemplo, Elon Musk), que insistiu em uma ideia que seus contemporâneos não acharam que poderia funcionar.

O Brasil acaba sendo muito influenciado pelo pensamento empreendedor norte-americano. Só que, embora sejamos um país empreendedor, existe aqui precária preparação para a realidade empresarial, já que em torno de ¼ das pequenas e médias empresas fecham as portas depois de menos de dois anos de funcionamento no Brasil.

Talvez seja interessante ver como culturas diferentes da nossa pensam o empreendedorismo e entender o que podemos aprender com elas. Será que vale mesmo a pena empreender em um contexto global? É o que vamos mostrar neste artigo!

Alemanha

Os alemães têm uma cultura construída em torno da ética do trabalho e são pessoas notoriamente motivadas. No entanto, empreender é muito mais difícil na Alemanha do que em outros países: o Banco Mundial lhe aponta o 113º lugar no mundo em termos de facilidade de começar um negócio.

Parte da razão é que a Alemanha prioriza empregos no governo e em grandes empresas bem estabilizadas. As pessoas mais trabalhadoras e os melhores talentos gravitam em torno de ter empregos estáveis, de prestígio e progresso. Isso deixa as oportunidades empresariais menos exploradas e menos celebradas, pelo menos pelos padrões alemães.

De modo geral, o país ainda vê taxas decentes de empreendedorismo, graças a uma população imigrante que traz valores mais empresariais para o país.

Nova Zelândia

O Banco Mundial classificou a Nova Zelândia como o principal país que oferece facilidade para começar um negócio, mas a cultura da nação desta ilha apresenta alguns desafios únicos para os empresários locais — ou seja, o fenômeno da “tall poppy syndrome” ou TPS. Este termo se refere à tendência dos neozelandeses para manter o foco na coletividade ou valorizar pouco os indivíduos excepcionais, aparentemente como uma maneira de nivelar o campo de jogo.

Segundo uma pesquisa recente da NZ Entrepreneur, cerca de 75% dos donos de empresas na Nova Zelândia consideram o TPS como um fenômeno real, e 42% relataram ter pessoalmente experimentado o fenômeno, na posição de empresários. Assim, os empreendedores tendem a tomar menos decisões alternativas e adotam menos abordagens que se desviam da norma.

Dito isto, a Nova Zelândia é particularmente convidativa para empreendedores de sucesso; seu programa de vistos aceita e recompensa aqueles empreendedores capazes de apostar em um alto crescimento de seus negócios no lugar.

China

Nas últimas décadas, a China tem se mostrado como o centro de manufatura do mundo. Mas a cultura chinesa tem mudado para se concentrar nos méritos do empreendedorismo, ao passo que a China tenta se reposicionar como um inovador tecnológico em crescimento.

O governo chinês tomou várias iniciativas com o objetivo de promover o aumento das taxas de empreendedorismo, incluindo uma incursão de US$ 338 bilhões nas empresas de capital de risco apoiadas pelo governo e voltadas para a tecnologia. A maior disponibilidade de dinheiro disponível para empreendimentos está alimentando um interesse renovado pela inovação.

Além das oportunidades financeiras, a cultura chinesa impulsiona mais competitividade entre os empreendedores. Os cidadãos chineses têm mais fome de sucesso e estão dispostos a fazer grandes sacrifícios pelas chances de obtê-lo. Assim, as startups chinesas tendem a crescer mais rapidamente do que suas concorrentes americanas, por exemplo.

Estados Unidos

Em paralelo com a figura mitológica do bilionário empreendedor, existe uma realidade muito diferente. Essa realidade define a “cultura empreendedora” nos Estados Unidos como sendo inconsistente com a noção de “América”. De acordo com Yasuyuki Motoyama, da Kauffman Foundation, o sistema de ensino americano ainda tem o peso de colocar os estudantes de graduação nas principais empresas existentes, em vez de capacitá-los com boas habilidades ou oferecer os incentivos necessários para iniciar seus próprios negócios.

Além disso, a cultura do empreendedorismo ainda é relativamente nova; Motoyama sugere que o prestígio do empreendedorismo surgiu como uma resposta às demissões da recessão nos anos 1970 e 1980, que deixaram o empreendedorismo como a única opção para o avanço sócio-econômico.

Brasil

O Brasil é um exemplo bem interessante. Sua taxa de empreendedorismo ampliou de maneira significativa nos últimos anos, em parte graças ao crescente interesse nos programas que foram patrocinados pelo governo e pelos capitalistas de risco americanos. Como um mercado em desenvolvimento, que apresenta altas taxas de crescimento econômico, o Brasil tem uma sociedade que vê o empreendedorismo como uma oportunidade promissora de ascender a uma nova classe social (especialmente considerando a desigualdade de classes do país).

Em pesquisas recentes realizadas pelo SEBRAE (GEM – Monitoramento de Empreendedorismo Global), os resultados foram surpreendentes. Nosso país ocupa a primeira posição no ranking de abertura de novos empreendimentos no mundo. Este alcance leva em conta a população economicamente ativa em relação à taxa de desenvolvimento de novos negócios. De acordo com as porcentagens obtidas, cerca de 1/3 deste grupo tem negócio próprio. E para completar os números marcam que três a cada 10 brasileiros com idade entre 18 e 64 anos estão à frente de uma empresa ou estão trabalhando para desenvolver uma.

Além disso, os cidadãos brasileiros tendem a favorecer o trabalho para as pequenas e médias empresas (PMEs), em vez de grandes empresas; um significativo 98% das empresas no Brasil é constituído por PMEs, e elas são responsáveis por 96% dos empregos disponíveis. Isso torna o empreendedorismo e a propriedade empresarial ainda mais atraentes, em uma propensão que impulsiona um crescimento mais rápido e sustentável.

Os brasileiros, em geral, tendem a considerar que o empreendedorismo poderá mudar suas vidas para melhor.

Por estas razões, abrir sua perspectiva pessoal sobre empreendedorismo é importante se você quiser se tornar um líder de negócios bem-sucedido. Sua história, cultura e seus valores são todos importantes, mas eles não devem cegá-lo para outras perspectivas ao redor do mundo.

E, afinal, agora vivemos em um mundo global. Assim, aprender mais e ampliar sua abordagem provavelmente ajudará você a encontrar soluções mais criativas, construir um negócio mais forte e, possivelmente, até encontrar mais satisfação em seu trabalho e em seu novo papel: o de líder de negócios.

O que você acha a respeito do empreendedorismo em nosso país? Teve a oportunidade de conhecer outros lugares do mundo e descobrir como as pessoas empreendem por lá? Conte a sua experiência e sua opinião nos comentários abaixo!